quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quadro de Portinari é furtado do Museu de Arte Contemporânea em Olinda


'Enterro' é de 1959 e faz parte da chamada Série Azul do artista; a equipe deu falta da obra na última quarta-feira (14)

Do pe360graus


Um quadro do pintor paulista Cândido Portinari chamado "Enterro" (fotos 1 e 2), que fazia parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC-PE - foto 3), em Olinda, foi furtado. A equipe do museu percebeu a ausência da obra na última quarta-feira (14).

O quadro é de 1959 e faz parte da chamada Série Azul do artista. A peça mede 24,5 x 33,5 cm e foi pintado em óleo sobre madeira. "Enterro", junto com os outro cinco Portinari que continuam no MAC, fazia parte da coleção de Assis Chateaubriand que originou o museu, inaugurado em 1966.

De acordo com a diretora do MAC, Célia Labanca (foto 4), o quadro tem valor estimado entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão. Ela prestou queixa na Delegacia de Roubos e Furtos, no Recife, que está à frente da investigação. Célia forneceu à Polícia o livro de ata do museu, além de réplica do quadro para facilitar nas buscas da obra de arte.

A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), responsável pela administração do museu, informou que, no dia do episódio, peritos do Instituto Tavares Buril estiveram no local para coleta de materiais para análise. Nesta quinta, técnicos do Instituto de Criminalística também compareceram ao museu.

Funcionários contaram que perceberam o crime na hora de fechar o museu, quando viram que uma moldura sem tela havia sido colocada atrás de uma janela. O museu não tem circuito interno de câmeras, mas a Fundarpe afirma que há vigilância 24h e funcionários e monitores para acompanhamento dos visitantes.

"Ele não invadiu o prédio, entrou pela porta da frente, provavelmente junto com os visitantes. Era um dos visitantes que entraram aqui pra ver as obras", acredita Frederico Maranhão (foto 5), perito do Instituto de Criminalística.

Além da Roubos e Furtos, agentes do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri) acompanham o caso; a Polícia Internacional (Interpol) e a Polícia Federal (PF) também foram avisadas, mas como somente o prédio onde está instalado o museu é tombado pelo Patrimônio Federal, e não o acervo, a PF não vai entrar na investigação, pelo menos inicialmente.

O delegado Manuel Martins (foto 6), que está à frente do caso, pede o auxílio da população para que a peça não deixe o Estado. "Não é uma obra fácil de ser comercializada, então precisamos realmente que a sociedade nos ajude pra trazer informações", afirma.

Quem tiver informação pode ligar para o disque-denúncia, no número 3421.9595.

Para Célia Labanca, faltou investimento na segurança do museu. "Não é descoprometimento, não. É não dimensionar o que significa um acervo como o de arte contemporânea, que nós somos o segundo da América Latina... Como não dimensionou a importância disso, então não tem maiores cuidados com a segurança eletrônica, por exemplo. Para cada um de nós, é uma perda enorme, porque isso pertence à gente, né?", lamenta.

HISTÓRIA
Cândido Portinari nasceu em 1903, no interior de São Paulo. No início de sua carreira, suas obras eram telas pintadas a óleo. Após um período de dois anos morando em Paris, na década de 1940, ele passa a se dedicar a murais e afrescos. Em todas as fases, ele sempre mostrou preocupação com a situação social do Brasil. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e, em 1947, concorreu ao Senado. No entanto, por uma pequena margem de votos, não foi eleito.

O artista faleceu em 1962, no Rio de Janeiro, devido ao chumbo contido nas tintas que ele usava para fazer suas obras. Apesar das recomendações médicas, que pediam para ele diminuir o ritmo de trabalho, ele continuou pintando e viajando para exposições fora do Brasil.

Alguns dos prêmios e homenagens entregues a Portinari:

- Legião de Honra, concedida pelo governo da França, em 1946
- Na Varsóvia, em 1950, ganha medalha de ouro concedida pelo júri do Prêmio Internacional da Paz
- Em 1955, em Nova York, ganha o prêmio de pintor do ano da International Fine Arts Council

Dos quatro museus de Olinda - MAC, Museu do Mamulengo, Museu de Arte Sacra e Museu Regional de Olinda - o único que não é gerido pela Fundarpe é o do Mamulengo, de responsabilidade da Prefeitura da cidade.

No acervo do MAC estão mais de 4 mil obras das mais variadas técnicas, épocas e estilos, desde o academicismo francês até a contemporaneidade. As coleções contam com peças de artistas como Cícero Dias, Eliseu Visconti, Djanira, Telles Junior, Wellington Virgolino, Di Cavalcanti, João Câmara, Guinard, Adolph Gottielib, Burle Max e Francisco Brennand, entre outros.

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